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sábado, 31 de outubro de 2009

Pra escrever amor nos braços dela





por Jamie Tworkowski

Pedro The Lion está tocando alto nos amplificadores, e a cidade nos espera do lado de fora das janelas abertas. Ela senta e canta, pernas cruzadas no assento do passageiro, a bonita voz dela escondida sob o volume. A música é um lugar seguro, e Pedro é sua banda favorita. Me atinge o fato de que ela não verá esse horizonte por várias semanas, e que nós estaremos sem ela. Eu me inclino para a frente, sabendo que isso será escrito, e pergunto para ela o que ela diria se essa história tivesse uma audiência (não é exatamente isso..). Ela sorri. “Diga-os para olhar para cima. Diga-os para lembrar das estrelas.”

Eu preferiria escreve-la uma música, porque músicas não esperam para se resolver, e porque músicas significam muito para ela. Histórias esperam por fins, mas músicas são coisas intrépidas o suficiente para cantar quando tudo que conhecemos é escuridão. Essas palavras, como a maioria das palavras, serão escritas próximas da meia noite, entre o furacão e o porto (“hurricane and harbor” deve ser alguma expressão, desconheço..), enquanto ambos esperam a salvar.

Renee tem 19 anos. Quando eu à conheci, a cocaína estava fresca em seu organismo. Ela não havia dormido em 36 horas e não iria por mais 24. É uma mistura familiar de cocaína, maconha, pílulas e álcool. Ela concordou em nos conhecer, nos ouvir e nos deixar rezar. Nós perguntamos à Renee se ela gostaria de vir conosco, deixar para trás essa noite falida. Ela diz que irá para a reabilitação amanhã, mas que ela não está pronta agora. É uma mudança muito grande. Nós rezamos e dizemos adeus e é difícil ir sem ela.

Ela conheceu tanta dor; sonhos perseguidos quando criança, a presença próxima e constante do mal desde então. Ela sentiu o toque de horríveis homens nus, lutou contra a depressão e o vício, e tentou o suicídio. Seus braços trazem marcas das lâminas, cinqüenta cicatrizes que lembram dos cortes feitos por ela mesmo. Seis horas depois que eu à conheci, ela está se sentindo presa, com dois grupos de “amigos” oferecendo caminhos opostos. Todos estão dormindo. O sol está nascendo. Ela dá um grande gole em uma garrafa de licor, pega uma gilete na mesa e se tranca no banheiro. Ela se corta, usando a lâmina para escrever “FUCK UP” (algo próximo de “foda-se”) bem grande em seu antebraço esquerdo.

A enfermeira no centro de tratamento encontra o ferimento várias horas depois. O centro a nomeia como um grande risco, e não a aceita. Nos próximos cinco dias, era será nossa para que a amemos. Nós nos tornamos seu hospital e a possibilidade de cura enche nossas vidas. Nada é dito e somos poucos, mas nós seremos a sua igreja, o corpo de Cristo vindo à vida para preencher as necessidades, para escrever amor nos braços dela.

Ela é cheia de contrastes, mais cheia de vida e próxima da morte do que qualquer um que eu já tenha conhecido, como em uma música do Johnny Cash ou alguma estrela do cinema. Sua atitude própria e humor trespassam seus 19 anos, e quando ela me conta sua história, ela é humilde, quieta e gentil, lapidada pela dor de mil vidas. Eu me sento, privilegiado mas me quebrando enquanto ela se abre. Sua vida tem sido são negra mas ainda há alguma leve esperança em suas palavras, e por várias noites consecutivas eu observo as mais belas garotas da sala dizerem-na o quanto é bonita. Eu acho que é Deus lembrando dela.

Eu nunca segui esse caminho, mas eu decidi que se nós estamos prestes a entrar em um período de reabilitação de cinco dias, vai ser o mais legal do país. Será puro rock and roll. Nós começaremos com o básico; muita diversão, muitas idas ao Starbucks e cigarros até demais.

Quinta à noite ela está no balcão para a Band Marino, a melhor de Orlando. Eles são “indie-folk-fabulous”, um movimento disfarçado de circo. Ela os ama e sorri quando eu aponto o (não sei o que é A&R) homem da Atlantic Europe, vindo de Londres, que está na cidade apenas para ver esse show.

Ela está em bons assentos quando o Orlando Magic ganha dos Sonics na outra noite, gritando como uma fã de longa data com todas as enterradas de Dwight Howard. No caminho para casa, nós paramos para mais café e livros, “Blue Like Jazz” e “Travelling Mercies” (de Anne Lamott’s).

No sábado, o “Taste of Chaos” está na cidade e nem tenho certeza de que nós conseguiremos entrar, mas as portas se abrem e minutos após estacionarmos, estamos no palco para ver a Thrice, uma de suas bandas favoritas. Ela fica a três metros do baterista, sorrindo constantemente. É um momento brilhante em que música, luz e chuva se encontram no palco. Soa como uma cura. É certamente esperança.

Domingo à noite é a Igreja, e muitos se juntam após o trabalho para orar por Renee nessa última noite antes de sua reabilitação. Alguns são estranhos, mas todos são amigos nessa noite. As orações passam de desesperançadas para confiantes, todas encorajando-a. Nós estamos falando com Deus, mas eu acho que estamos falando com ela, mostrando o quanto ela é amada, dizendo que ela não irá sozinha. Um entre nós à conhece melhor. Ryan senta no canto dedilhando um violão, cantando músicas que ela inspirou.

Após a igreja, nossa casa enche de amigos, ali por mais alguns instantes antes de dizer adeus. Todos tem algo para ela, alguma carta ou abraço ou pequenos encorajamentos. Ela me puxa de canto e diz que gostaria de me dar algo. Eu sorrio surpreso, me perguntando o que poderia ser. Nós andamos pela sala cheia, para a garagem até as coisas dela.

Ela me dá sua última lâmina, me diz que é aquela que ela usou para cortar seu braço e para alinhar suas últimas fileiras de cocaína cinco noites atrás. Ela esteve com a gilete o tempo todo, e me diz que como essa será sua noite mais difícil ela não deveria ficar com aquilo. Eu pego a lâmina com cuidado, agradeço e sei imediatamente que esse momento, esse presente, ficará comigo para sempre. Me atinge imaginar que esse grandioso sentimento é o que Cristo sente quando nós consertamos nossos corações, quando nós trocamos a morte pela vida.

Quando chegamos ao centro de tratamento, ela conclui: “As estrelas estão sempre lá, mas sentimos a falta delas entre a poluição e as nuvens. Nós sentimos a falta dela durante tempestades. Diga à todos para lembrarem da esperança. Nós temos esperança.”


Eu observei a vida voltar a ela, e isso foi um privilégio. Quando nosso tempo com ela começou, alguém sugeriu mudanças, mas essa é a linguagem dos negócios. Amor é algo melhor. Eu fui desafiado e mudei, lembrando que amor é aquela resposta simples de tantas questões difíceis. Don Miller diz que nós somos convocados à darmos as mãos contra as feridas de um mundo quebrado, a fim de parar o sangramento. Eu concordo maravilhosamente.

Nós freqüentemente chamamos Deus. Nós oramos rezas de resgate. Talvez Deus pediria a nós para ser aquele resgate, sermos como Seu corpo, nos mexer para as coisas que importam. Ele não é invisível quando nós nos movemos. Eu posso ser simples, mas cada vez mais acredito que Deus age no amor, fala pelo amor, é revelado em nosso amor. Eu vi isso essa semana e honestamente, foi bem simples: Pegue uma garota quebrada, trate-a como uma princesa, dê a ela os melhores lugares na casa. Compre o café e os cigarros dela para os próximos dias, livros e coisas de banheiro para os dias que virão. Diga a ela algo sincero quando tudo que ela conhece são mentiras. Diga que Deus a ama. Conte a ela sobre o perdão, a possibilidade da liberdade, diga que ela foi feita para dançar em vestidos brancos. Todas essas coisas são verdade.

Nós somos apenas requisitados para amar, para oferecer esperança à tantos desesperançosos. Nós não podemos escolher todos os finais, mas devemos agir como resgatadores. Nós não iremos resolver todos os mistérios, e nossos corações certamente irão quebrar em uma vida tão vulnerável, mas esse é o melhor caminho. Nós fomos feitos para ser amantes bravos em lugares quebrados, atendendo aos chamados várias vezes até sermos convocados para casa.

Eu aprendi tanta coisa em uma semana com uma garota corajosa. Ela está viva agora, na segurança e na paciência de uma reabilitação, cercada de marcas de loucuras mas decidindo acreditar que Deus renova as coisas, que Ele significa esperança e cura nas estrelas. Ela iria pedir para você lembrar.

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