"Eu não sou tão triste assim...

...É que hoje eu estou cansada!"
(Clarice Lispector)

Eu não sei o motivo... tá, eu sei que existem mil deles, mas não sei dessa vez o que motivou, só sei que essa noite eu me sinto um tanto quanto despertencente a tudo o que me cerca. Talvez igual à outras vezes, talvez mais... não importa, só sei que é ruim pra cacete.

Até comentei, num papo cabeça que eu tive hoje com a Vivi: em vez de sentir uma ponta de esperança, vontade de ir em frente, de ter algum resultado pelas coisas que faço e até de esperar coisas novas com a chegada de um novo ano porque a gente sempre acaba tendo essa sensação de "vida nova", eu vejo tudo piorar, vejo as coisas dando cada vez mais errado, vejo as pessoas sempre tentando me passar a perna, me irritar, me faltar com respeito ou invadindo meu espaço, tentando decidir a vida por mim.

Na boa, eu me sinto sendo esmagada pelo mundo, pelas pessoas, pelas minhas vontades e problemas, eu olho pra trás, e vejo todo mundo que eu conheço dizendo: 'anda, Natu.. vai!', olho pra frente e vejo um puta abismo, onde eu não enxergo o fundo, de tão longe... meio como se eu não tivesse mais pra onde ir e todo mundo me dissesse pra continuar andando. Ou numa rua sem saída, com um muro enorme fechando tudo, e ainda sim, o povaréu lá atrás gritando: 'corre, Natu... não para, segue adiante que tu consegue!'. Correr por/pra onde, meusa migos?

Eu tenho uma certa gastura quando alguém me diz que sou pessimista, porque não me considero. Uma coisa é tu começar a bater as claras e começar a dizer que não vai dar certo, outra é tu estar a meia hora naquela função e elas estarem mais líquidas do que antes, tu tá vendo que não tá fluindo, e tá sendo realista, não vai adiantar tu continuar, mas não quer dizer que tu ficou de braços cruzados, tu tentou e deu errado.

Eu tenho feito das tripas coração, pra fazer as coisas da melhor forma, tenho aguentado calada, coisas daqui de casa, pra não provocar briga, fingindo pra eles que eu tô feliz, fingindo que a vida é boa. Tenho andado feito louca atrás de serviço e torcido horrores pra que aquela porra daquele ENEM finalmente me dê uma merda duma chance, tenho relevado coisas de algumas pessoas que eu amo, deixado de reclamar de muita coisa, fingindo estar bem, trovando sobre assuntos melhores do que meus problemas, tentando me aproximar de algumas e me afastando de outras que não quero que me aguentem nesse estado. Tenho me alimentado pior do que nunca, dormido quase nada, tido pesadelos e os malditos pressentimentos ruins. Tenho enjoado de novo, tido pequenos mal-estares e ouvido quieta quando alguém de casa reclama que eu tô deitada com o sol rachando lá fora (sem ao menos alguém me perguntar o motivo de eu estar estirada ali). Tenho ficado sabendo de notícias que me deixam triste, escutado suposições e comentários maldosos e infantis de mim, tenho visto pessoas debochando, dizendo que eu só faço drama e vendo pessoas que se dizem gostar de mim, se afastando e/ou me criticando injustamente sem nem saber o que se passa, dizendo que eu tô chorando de barriga cheia, ou dizendo que eu não tenho problemas, enquanto a pessoa me conta os dela, que parecem problemas de uma criança de 6anos. E EU AINDA TENHO REALMENTE QUE ESCUTAR QUE SOU PESSIMISTA, QUE FAÇO DRAMA OU QUE NÃO ME MEXO PRA NADA, QUE FICO PARADA VENDO A BANDA PASSAR? Tenho realmente que ouvir sermão e conversinha fiada? As pessoas não tem ideia do que eu faço ou deixo de fazer pra resolver minhas coisas, como podem falar mal? ...é no mínimo ridículo, me criticarem sem saber. Ou injusto, tanto faz.