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sexta-feira, 1 de outubro de 2010

Família, Família ♪ -- Parte 2

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Então, é aquela história: sempre que surge algo que 'não é comum' na minha vida, seja uma festa, seja o convite pra dormir na casa de alguém, uma viagem ou qualquer coisa que fuja dos planos dela pro nosso dia a dia, eu digo 'minha mãe não deixa'. Muita gente, obviamente se espanta, pois até gurias de 12, 13 anos hoje em dia fazem o que bem entendem da vida e não estão nem aí pro que os pais dizem, mas eu tenho um motivo... talvez isso não justifique, mas quando minha mãe fica muito nervosa [esqueci de dizer que ela é extremamente nervosa], ela fica doente. Certa vez, no chá de bebê da Vivi, estava tudo acertado pra que eu fosse lá. De cara ela entortou o nariz, porque seria em outra cidade, o que pra ela é como se fosse em outro estado, e olha que quem tem problemas com viagens longas e enjoos sou eu. Mas estava tudo certo de qualquer forma... chegando perto do dia, ela adoeceu. E ficou de tal forma, que não dizia coisa com coisa, tinha alucinações, dormia, comia mal... e logicamente, eu também vivi isso tudo. Desmarquei o chá, a Vivi se chateou com razão, mas eu coloco minha família sempre a frente de tudo, ela acabou entendendo.
E eu vivi um mês de um pesadelo que parecia não ter fim. Eu não tinha mais sossego, ficava acordada a madrugada toda, cuidando dela, pois volta e meia ela pedia algo (e meu pai nem acordava), ou tinha pesadelos e não atinava a acordar, tinhamos que chamar, sacudir, alcançar água e remédios, cuidar pra ela não cair da cama, pois ela não tinha noção mais, sentava na beirinha e se não cuidássemos, ela caía. Volta e meia no meio de um pesadelo, ela levantava e conversava como se aquilo fosse verdade. Eu não tinha mais forças pra explicar o que era ou não realidade, as vezes concordava, fingia que estava tudo certo. Ela tinha momentos de plena lucidez, onde nem ela acreditava quando contávamos... as vezes ela piorava quando dormia, eu tinha medo toda a vez que ela acordava, dava vontade de fazer ela dormir direto, porque eu estava no meu limite. Eu chorava o tempo todo pelos cantos. Passava a noite inteira sem dormir, ficava de manhã cuidando da casa, e dela, atendendo mil telefonemas, com todo mundo me dizendo como agir, perguntando mil coisas, mas ninguém estava aqui comigo pra me ajudar. A tarde, quando meu pai chegava era que eu ia dormir um pouquinho, pois se ela precisasse, teria ele por perto. Acordava mais tarde e continuava na lida, fazendo comida, limpando a baderna que eles faziam, cuidando da mãe e tudo mais que tivesse pra fazer... e foi assim por mais ou menos um mês. Levavamos ela no médico, alguns davam algum remédio, outros diziam não ser nada, que isso iria passar. Certa vez, eu fui junto, entrei junto e contei algumas coisas que ela fazia e dizia. A maldita da médica quase nem me deu bola, me cortou algumas vezes e me deu vontade de dizer: 'vem cá, tu vai me deixar contar as coisas direito? Daqui a pouco tu vai meter um remédio qualquer goela abaixo dela sem nem ter certeza do que ela tem!', mas eu já não sabia mais se minha raiva era por estar cansada de tudo ou o que. A médica receitou antipsicóticos pra ela, aumentou os remédios que ela já tomava e disse não saber exatamente de onde viria isso tudo, pediu uns exames e tal, e disse que era possível que tivesse a ver com o maldito cigarro. Minha mãe fuma demais, chega a comprar 3 carteiras por dia, ela faz uma 'móca' e a gente acaba não sabendo ao certo quantos ela fuma ao dia, mas tenho certeza que são muitos, mais do que um idiota normalmente fuma. Ela disse que o cigarro com o tempo, além de todos os problemas que ele já causa, também mata os neurônios, e a pessoa vai ficando assim, dependendo da pessoa, obviamente ele faz mais ou menos mal, tanto que alguns tem câncer e outros não, alguns tem problemas sérios e outros nem sentem que um dia fumaram, morrem de velhice, sei lá. Disse também que se ela não se cuidar, pode ter um AVC, e a gente não tem como prever se a pessoa vai ter ou não sequelas, né?
Saí de lá mais apavorada do que eu já estava.
Tenho uma certa vergonha de contar isso, porque um idiota qualquer vai dizer: 'ahahahaha a mãe dela é louca', e eu tenho ódio quando alguém debocha de alguém que eu amo, ainda mais sem saber o que acontece, mas achei necessário contar, pra mostrar as coisas que acontecem e um pouquinho dos motivos que eu tenho pra reclamar dos meus dias e da vida que eu levo.
O pior de tudo, é que minha mãe tem vários problemas de saúde, mas cada dia ela se cuida menos. No tempo que ela corria pra todo o lado, era ágil e 'feliz', ela era super magrinha, todos falavam, comentavam, as mulheres que ela se dava perguntavam sempre como ela conseguia permanecer magra daquele jeito após ganhar duas filhas, pois elas não conseguiam, muitas vezes após um filho, perguntavam o que ela fazia e tal, qual era o segredo e ela dizia que era a vida que ela levava, e tinha razão. Hoje, ela deixou tudo de lado, engordou, se alimenta muito mal, dorme mal, não faz nenhum tipo de exercício, não se importa com nada. Fica sempre reclamando que não gosta do seu peso, que se sente mal, que não sei o que, que não tá feliz, mas não faz absolutamente NADA pra se ajudar. A gente diz que ela tem que se cuidar, se alimentar de tal forma, sair de casa, caminhar... ela ouve, entra por um ouvido e sai por outro, quando a gente começa a falar, ela já faz uma cara feia e a gente sabe que ela nem tá escutando... demora um pouco e ela reclama de novo, a gente volta a falar, e é esse inferno sempre.

Eu poderia ficar aqui falando até dizer chega, de todos os problemas da minha mãe, de como ela é, mas acho que já deu pra ter uma ideia.
Muita gente já me disse e eu também sei, que ela está assim porque quer, não é por falta de ajuda. As vezes ela diz que precisa de ajuda, que precisa da gente, me parte o coração e eu pergunto o que ela precisa, ela diz não saber. Eu digo: 'mãe, aqui,a senhora tem nós três, dispostos sempre a ajudar, se a senhora precisa que alguém faça algo em casa, tem quem faça, companhia pra sair ou ir a algum lugar, tem, o pai se desdobra pra comprar algo se a senhora pedir, a única coisa que a falta, é a senhora se ajudar, e isso a gente não pode fazer. Me ajuda que eu te ajudo!', tudo o que ela quer, a gente faz o possível pra fazer, porque a gente tenta de todas as formas que ela melhore, a gente se preocupa, quer o bem dela, mas não adianta merda nenhuma.

E são esses motivos, pra não deixar ela pior, que me fazem agir da forma que eu ajo. Sei que muita gente vai dizer que eu tenho que viver a minha vida, que eu tenho que dar de ombros pra tudo isso pois ela é adulta e foda-se se não quer se ajudar, tudo isso eu já ouvi várias vezes e eu mesma já penso assim, sem que ninguém precise me dizer, mas eu não quero que ela passe mal por minha causa, eu prefiro muitas vezes me privar de viver, de me divertir e de ser um pouquinho mais feliz, do que ver ela triste, preocupada, doente ou sei lá o que.
Eu não aguento mais ver minha mãe assim, não sei mais o que fazer pra ajudar e NÃO CONSIGO ignorar as neuroses dela, os ataques de mãe preocupada, e tudo mais, pra fazer minhas vontades. Vou me sentir completamente culpada quando chegar em casa e enxergar a cara dela de preocupação/reprovação e até de ficar sabendo o que talvez tenha acontecido.
Eu sei que muita gente não entende, justamente porque tem uma vida que pode ser levada super numa boa, consegue ter uma relação bacana com sua mãe, tem liberdades e tal, e eu acho que em vez de me julgar, essas pessoas deveriamtentar se pôr no meu lugar, porque não é assim fácil, mandar tudo a merda e agir como uma adolescente rebelde. Não é assim. Não dá e fim de papo.

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